Igreja de San Maurizio: a Sistina de Milão
Confesso que quando ouvi falar pela primeira vez sobre a Igreja de San Maurizio, conhecida como a Capela Sistina de Milão, fiquei meio espantada. Sério? Uma Sistina em Milão comparável à obra-prima de Roma?
Pensei logo na eterna rivalidade entre as duas cidade. Milão invejosa da grandiosidade romana, enaltecendo os próprios monumentos…na Itália tem dessas coisas.
Não é assim, vai tranquilo, a Igreja de San Maurizio é uma surpresa maravilhosa, um atrativo misteriosamente fora do radar, talvez por ficar fora do “miolo turístico”. Uma visita rápida (e grátis) que vale a pena porque mostra mais uma vez a imensidão do acervo artístico italiano.
Esclareço logo que a Igreja de San Maurizio, apesar da sua beleza, não foi pintada pelo grande Michelangelo, como a Capela Sistina. O Mestre deixou para a eternidade o seu legado nos afrescos romanos mas não em Milão.

Ornamentações na cúpula da igreja
Porque visitar a Igreja de San Maurizio?
A atual igreja foi construída em 1503 e fazia parte do convento feminino mais importante e antigo da cidade, o Mosteiro das Monjas Beneditinas. Foi construída sobre uma igreja dos primeiros anos da era cristã, aproveitando algumas construções romanas, ainda hoje visíveis na parte de atrás da igreja.
O arquiteto foi Dolcebuono, com a ajuda de Amadeo, que na época trabalhavam no Duomo de Milão. As obras da igreja foram financiadas pela família principesca Bentivoglio, poderosos nobres de Bolonha. Foram o filho do príncipe de Bolonha, Alessandro, e sua esposa Ippolita Sforza, a encomendarem os afrescos. As quatro filhas do dito cujo foram mandadas ao convento e, uma delas, Alessandra, foi seis vezes abadessa.
A fachada é muito simples, quase cinzenta, e pode passar despercebida. A surpresa é dentro: 4000 metros quadrados de afrescos e ornamentações em ouro. Em poucas palavras, as paredes da igreja foram completamente cobertas por afrescos pintados por importantes artistas italianos, pertencentes ao círculo de Leonardo da Vinci, entre eles Bernardino Luini, o preferido da aristocracia milanesa na época. A ornamentação das paredes durou 30 anos e Luini foi ajudado pelos filhos e pelos alunos da sua escola.
A igreja é dividida em dois setores: o primeiro era reservado aos fiéis, relativamente pequeno, com uma nave única, rodeada por dez capelas laterais, pertencentes a famílias aparentadas ou ligadas politicamente aos Bentivoglio. Por trás fica um salão, separado da igreja por uma parede, onde ficam um órgão espetacular e o coro das monjas, por sinal geralmente oriundas das famílias mais ricas de Milão. O convento era considerado quase como um clube d’elite, onde as monjas passavam o tempo a cantar e a filosofar. Mas nem tudo era poesia: sobre o convento pairam estórias misteriosas, de amores não correspondidos, traições e inveja.
As monjas viviam retiradas em clausura e não podiam de forma alguma passar pela parede divisória e entrar na parte reservada aos fiéis. Imaginem que as portas da clausura foram abertas pela primeira vez somente no século XIX.
As monjas podiam assistir às missas somente através das grades que ficam na parte de trás do altar. O arcebispo Carlo Borromeo, a um certo ponto, mandou reformar as grades para reduzir ainda mais a abertura e isolar as monjas.
Hoje em dia, depois de uma reforma que durou 30 anos e custou 4 milhões de euros, a igreja encontra-se muito bem conservada. O órgão e os bancos de madeira do coro estão perfeitos. Os afrescos são maravilhosos, quase em tons pastéis. Não existe sequer um espaço sem afrescos.
Destaque para a Cappella Besozzi com o afresco do martírio de Santa Catarina pintado por Simone Peterzano, mestre do grande pintor italiano Caravaggio, e o afresco atrás do altar, pintado por Luini, onde aparece (dizem) o casal Bentivoglio.

Afrescos nas paredes da igreja – aqui Ippolita Sforza, que encomendou a pintura

Pequena passagem entre os dois setores da igreja

Detalhe do altar da Igreja de San Maurizio
Info úteis sobre a Igreja de San Maurizio
A igreja fica no bairro Magenta, um dos bairros nobres da cidade. A entrada fica no movimentado Corso Magenta n.15, bem pertinho de outra obra-prima icônica “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci, na igreja Santa Maria delle Grazie.
Ao lado da igreja fica o Museu Arqueológico de Milão. Consulte o site oficial para maiores informações.
A parada de metrô mais próxima é Cadorna (linhas 1 e 2).
Horário | terça à domingo das 9.30 às 19.30 (fecha dias 25 dezembro, 1 janeiro e 1 maio).
Entrada grátis!

Detalhe da cúpula da Igreja de San Maurizio
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Olá Adelaide!
Gostei muito do seu blog, a matéria sobre a Igreja é muito boa e tenho uma duvida sobre a visita a Igreja! Tenho um cliente que foi a Igreja com a sua mãe, chegando na Igreja eles foram informados que somente com hora marcada e pagando a visita!
Você diz que a entrada é grátis!
Olá Paulo,
a entrada é gratuita e não precisa de hora marcada (com exceção de grupos).
Você pode conferir no link oficial:
http://www.museoarcheologicomilano.it/wps/portal/luogo/museoarcheologico/infoecontatti/sanmaurizio
Bom passeio!