Parque Nacional do Grand Canyon: dicas para um roteiro especial
O Parque Nacional do Grand Canyon estava na minha lista há muito tempo. Mas toda vez que planejava a viagem, aparecia um problema ou empecilho na última hora. E nada…
Em 2016 chegou o momento e eu exagerei: além do Grand Canyon incluí Arches National Park, Bryce Canyon National Park, Antelope Canyon e Monument Valley.
Uma viagem on the road atravessando o Arizona e o Utah, uma das regiões mais bonitas dos Estados Unidos. Valeu a pena esperar. Talvez se eu tivesse feito essa viagem vinte anos atrás não teria gostado tanto.
Aos poucos vou publicar o relato desse roteiro inesquecível, começando pelo Parque Nacional do Grand Canyon, patrimônio Unesco desde 1979.
A minha intenção não é somente contar como foi o passeio ou dar dicas para montar um roteiro “redondinho”. O amigo Google está lotado de informações básicas. Faltam “aqueles” detalhes que fazem a diferença. Vou tentar compartilhar esses detalhes porque para encontrá-los eu tive que zanzar horas na internet…rsrsrs.
Pois é, planejar uma visita ao Grand Canyon que não custe uma fortuna e que faça jus ao lugar requer tempo porque a hospedagem é limitada (e cara se a reserva for feita em cima da hora), o parque tem muitas atrações e fica longe dos principais aeroportos da região.
Nas próximas postagens vou resumir as dicas que considero mais importantes para uma visita especial sem o risco de cometer os mesmos erros que centenas e centenas de visitantes cometeram antes de você, inclusive eu.

Em cada mirante, uma surpresa
Pesquise sobre o Parque Nacional do Grand Canyon
O parque, criado em 1919, fica no noroeste do Estado do Arizona, em uma zona desértica, a 360 km de Phoenix e a 430 km de Las Vegas. Dentro do parque fica a maior parte do cânion, ou seja, uma profunda vale formada pela lenta erosão do potente Rio Colorado durante milhões de anos.
O parque ocupa uma área de 4.950 kmq, e o cânion tem uma extensão de 433 km e uma profundidade média de 1,6 km. Em 2015 foram registrados mais de 5 milhões de visitantes. É considerado uma das maravilhas da natureza.
Os números são impressionantes, é verdade, mas não descrevem a imensidão do lugar e a incrível força da natureza. Nem mesmo as melhores fotografias conseguem transmitir a beleza e as cores da paisagem que você vai ver quando se debruçar pela primeira vez nos mirantes que beiram o grande desfiladeiro do Arizona.
Apesar de não ser o maior cânion do mundo, o Grand Canyon é sui generis porque a erosão das encostas expôs uma sequência de rochas que chega até o Proterozóico e o Paleozóico, além de outras formações geológicas raras que mostram a evolução do continente norte-americano e, em geral, da crosta terrestre.
Antes de chegar no parque eu tinha subestimado a importância do processo de formação do cânion. Só descobri quando cheguei lá. Portanto é fundamental ler a respeito. Leia, leia e muito.
Sem entender o processo a sua emoção fica pela metade. Faz parte da beleza do lugar saber, por exemplo, que o Colorado começou a escavar o cânion há 5 milhões de anos e que as camadas mais profundas – visíveis nos paredões do cânion – tem mais de 2 bilhões de anos. E elas estarão bem na sua frente! Quando isso vai acontecer outra vez?
Você vai encontrar ótimo material didático nas páginas explicativas do site oficial do parque. Aí vão algumas sugestões:

Mirante espetacular na beira do penhasco (notar o tamanho das pessoas em cima do penhasco!)
Entenda a organização do parque
Como já escrevi, o parque é muito grande e para planejar a visita precisa entender a organização dos vários setores. Nada de complicado, mas tem que gravar pelo menos o ABC para não perder tempo.
Existem duas áreas de visitação: a borda norte (North Rim, altitude média 2400 m) e a borda sul (South Rim, altitude média 2000 m). A borda oeste (ou Grand Canyon West), muita visitada por brasileiros, não fica no parque nacional mas dentro da reserva indígena Hualapai Nation.
No South Rim ficam as atrações mais conhecidas e portanto é o mais lotado, principalmente no verão (junho-agosto), feriados e fins-de-semana. O South Rim fica aberto o ano inteiro.
O North Rim tem acesso complicado e fica longe do South Rim e das principais cidades, mas em compensação é bem mais tranquilo. Como não estive lá não posso dizer se também é mais bonito, como muitas pessoas comentam. Fica fechado durante o período outubro – maio.
O South Rim tem dois acessos (sul e leste) e ótimas estruturas receptivas, como por exemplo:
- centros de atendimento (Grand Canyon Visitor Center, Verkamp’s Visitor Center e Backcountry Information Center), estacionamentos e posto de gasolina;
- supermercado (Market Plaza);
- hotéis e restaurantes;
- áreas para piquenique;
- lojas de souvenir;
- áreas para acampamento;
- trilhas e mirantes;
- museus, ônibus para traslado, etc.

No Visitor Center do parque tem tudo: mapas, panfletos, banheiros, rangers, etc

Se não deu tempo para ler sobre o cânion, entre no Yavapai Geology Museum. Está tudo bem explicadinho.

O supermercado é grande e com ótimos produtos (preços altos). Na frente fica una área para piquenique muito agradável

O Hotel El Tovar fica dentro do parque. Lindo, mas fiquei em Tusayan para economizar
O South Rim é dividido basicamente em três setores:
- do Hermits Rest (ponta oeste) até o Grand Canyon Village (11 km): inclui a estrada Hermit Road e alguns serviços do parque. Pode ser visitado a pé, de bicicleta ou com os ônibus do parque (gratuitos) que param nos mirantes do Rim Trail, a trilha para pedestres que segue a borda do cânion (21 km). A Hermit Road fica fechada para carros particulares durante a maior parte do ano.
- do Grand Canyon Village até o Visitor Center (3,4 km): inclui a maior parte dos serviços (centro de atendimento, supermercados, hotéis, etc). Pode ser visitado a pé, de bicicleta ou com os ônibus do parque.
- do Visitor Center até Desert View (35 km): inclui a Desert View Drive, uma estrada panorâmica que chega até a Desert View Watchtower, a extremidade leste do parque. Pode ser percorrida somente de carro e fica aberta o ano inteiro.
Leia mais sobre os mirantes do Grand Canyon aqui no blog:
Mirantes do Grand Canyon – Parte 1
Mirante do Grand Canyon – Parte 2
Leia mais informações práticas
Mapas das rotas e horários de funcionamento dos ônibus no South Rim
Trilha para bicicletas no South Rim
Deixe o entusiamo tomar conta de você
A regra número 1 é ficar entusiasmado/a. Fica bem mais fácil planejar algo especial e sair do clichê: fico umas horinhas, bato ponto em dois mirantes e tiro umas fotos. Sem emoção antes, durante e depois, não vale a pena percorrer quase 400 km de carro e ir até lá.
O Grand Canyon é um lugar especial mas quando você chegar vai encontrar centenas de visitantes, principalmente no verão. Precisa ter uma estratégia para evitar a multidão e curtir o seu momento mágico com tranquilidade.
Caso contrário fica difícil observar as mudanças de cor do cânion quando passa uma nuvem ou quando o sol está indo embora. E sem tranquilidade e emoção não cai o recado do Grand Canyon: a brevidade da vida humana e a força da natureza.
Não fique um dia (e nada de bate-volta)
O Parque Nacional do Grand Canyon fica longe de tudo…Na minha opinião não é viável nenhum tipo de bate-volta, nem mesmo para visitar o Grand Canyon West saindo de Las Vegas.
Para visitar o South Rim com uma certa tranquilidade e sem risco de contratempos são necessários 2 dias.
O pior contratempo (e o mais importante) depende do clima: a região do Grand Canyon é sujeita a um fenômeno parecido com as monções do sudeste asiático com chuvas repentinas muito fortes. Muitas áreas do parque não tem abrigo e a única alternativa é interromper a visita e procurar um lugar seguro.
Além disso, durante o verão, as temperaturas são muito elevadas e podem chegar até 38-40°C. Fica realmente muito difícil enfrentar as trilhas entre os mirantes – sem sombras e a pé.
Melhor programar dois dias ou, melhor ainda, três dias, se viajar com crianças, adolescentes ou idosos.
Eu fiquei dois dias e foi uma ótima ideia porque o primeiro dia estava nublado, “estragando” os panoramas e o famoso por-do-sol.
No dia seguinte o sol estava maravilhoso e pude voltar para rever alguns mirantes ensolarados. Mas perdi de novo o por-do-sol…Teria sido melhor ficar três dias.
O sol faz uma grande diferença no Grand Canyon por causa das cores avermelhadas do terreno e dos reflexos nos paredões.
Acorde cedo e deixe o carro no estacionamento
É melhor chegar cedo porque é o horário mais tranquilo e com temperaturas mais agradáveis durante o verão tórrido do Arizona. Deixe o carro em um dos vários estacionamento disponíveis ou no vilarejo de Tusayan, pouco antes da entrada do parque, onde ficam o Centro de Atendimento da National Geographic e o cinema IMAX (com filme sobre o Grand Canyon).
Use os shuttles do parque. São rápidos e passam o dia inteiro a cada 15 min (a cada 30 min no início da manhã e no fim da tarde).

Use os ônibus gratuitos para visitar o parque e os mirantes: é a melhor opção
Visite os mirantes menos explorados
Vou postar um artigo específico sobre os mirantes. É a melhor parte do passeio. Enquanto isso saiba que existem vários mirantes oficiais no South Rim: 9 no lado oeste e 7 ao longo da Desert View Drive. Os mirantes “oficiais” tem paradas de ônibus, parapeito e trilhas assinaladas. Obviamente existem centenas de outros mirantes no parque. Fica a sua escolha.
Os mirantes mais acessíveis e próximos aos centros de atendimento ficam lotados. Procure os mais afastados (use os ônibus se não gosta de caminhar) para apreciar a beleza do cânion com maior tranquilidade e até fazer um piquenique.

De repente um esquilo pode aparecer bem na sua frente. Mas não dê comida porque é proibido
Visite Desert View (e a Desert View Scenic Drive)
A maioria dos visitantes fica nos dois primeiros setores do South Rim porque tem ônibus, restaurante, lojinhas, etc. Mas o último setor, onde fica a estrada panorâmica até Desert View (lado leste), é maravilhoso e tem mirantes espetaculares.
Tem que ir de carro, mas a estrada e os mirantes são muito bem sinalizados. Tudo é mais tranquilo e acolhedor.
Curta o pôr do sol
O pôr do sol é uma das atrações do parque. O site oficial fornece até uma tabela com os horários (pasmem, a organização é fantástica).
Com o entardecer o cânion fica completamente avermelhado. Infelizmente por causa de uma chuvinha chata de fim de tarde não pude presenciar e fotografar o “evento”. Fica para a próxima…
Na internet achei vários artigos sobre os melhores mirantes para curtir o pôr do sol. E até mesmo o site do parque dá palpites e dicas para quem quer levar para casa um souvenir fotográfico.
Aguardem um post sobre o assunto, mas os melhores points ficam no setor oeste, próximos à Hermit Road.
Explore as trilhas mais acessíveis
No Parque Nacional do Grand Canyon existem várias trilhas, algumas fáceis e outras para Indiana Jones. O site oficial do parque fornece todas as informações necessárias sobre o nível de dificuldade, medidas de segurança e duração das trilhas. Não subestime o perigo principalmente se viajar com crianças e adolescentes.
Como está escrito no site oficial, não existem trilhas fáceis no parque. As trilhas são catalogadas em função da duração: trilhas que podem ser feitas em um dia ou com pernoite.
Por exemplo, a não ser que você seja medalha de ouro no pentatlo não caia na bobagem de tentar percorrer a famosa trilha Bright Angel Trail, ida e volta até o Rio Colorado, no mesmo dia. É impraticável. Se quiser visitar o rio é melhor optar por roteiros de rafting ou de barco.
Apesar das precauções necessárias, as trilhas são uma boa pedida para explorar as áreas menos conhecidas do parque. No entanto, para evitar as horas mais quentes do dia, geralmente, precisa começar a caminhada antes do nascer do sol.
Quem quer tentar uma caminhada sem ter que acordar cedo pode simplesmente percorrer uma parte da trilha, sem ir até o fim, ou participar dos passeios guiados.
Leia mais

No Visitor Center tem vários cartazes explicativos sobre as trilhas

Rim Trail: a trilha mais fácil do parque e próxima às paradas de ônibus

…e tem áreas para piquenique
Siga as instruções e as regras de comportamento
Por falar em Indiana Jones, é bom saber que ocorrem acidentes graves e mortais no cânion. Mais de 250 pessoas são socorridas todos os anos. Não é pouco. Vi muita gente afoita, principalmente adolescentes, na beira dos precipícios tirando fotografias. Loucura.
Portanto quase todas as atividades são regulamentadas e existem muitas regras de conduta e instruções para visitar o parque com segurança. Consulte o site oficial para maiores detalhes.
Vamos ver algumas:
- levar sempre 2 litros de água por pessoa durante o verão porque em muitos trechos do Rim Trail não tem água (nem banheiro);
- não percorrer trilhas desacompanhado ou trilhas não assinaladas;
- levar protetor solar, capa de chuva e chapéu;
- verificar a previsão do tempo.
Seguem outros pitacos nas próximas postagens. Não deixe de acompanhar!
Mais sobre outros parque americanos no blog Caminhos me levem | Roteiro pelos Parques Nacionais americanos
E tem mais sobre os EUA aqui no blog
Guarde no Pinterest para ler depois
Adorei os artigos sobre os EUA. Estou com viagem marcada para julho chegando em Los Angeles e voltando por Las Vegas. 15 dias on the road e paradas no Joshua Tree, Death Valley e Grand Canyon. O que você acha? Queria acrescentar mais um parque e pensei no Monument Valley.
Agradeço.
Olá,
obrigada pelo contato. Fico feliz que tenha gostado.
Parece um bom roteiro para 15 dias. Sem pressa e com tempo para conhecer os parques sem corre-corre.
Colocando o Monument Valley você vai esticar mais um pouco. São uns 200 km. Mas acho viável.
É difícil dizer qual foi o parque mais bonito que visitei mas com certeza o Monument está entre os três melhores.
Vale a pena.
Abs
Muito obrigada, Adelaide.
Você acha que um dia é suficiente para visitar o Monument Valley?
Depende. Eu visitei em um dia e deu para ver tudo mas ficou corrido. Não fiz nenhuma excursão nem tour fotográfico. Pode valer a pena ficar um dia e meio para dar tempo de fazer uma excursão com pôr do sol, por exemplo.
Abs.